17 fevereiro, 2010

Exemplo

Quando eu era criança tinha um sério problema para comer.
Não gostava de nada (principalmente carnes) e me lembro que ficava horas sentada na mesa em frente ao prato de comida onde a ordem era: só sai da mesa quando comer tudo.
Tá explicado o porquê deu ficar horas sentada na mesa né? Junte a isso uma mãe que não via razão para fazer ficar fazendo pratos especiais para cada um dos filhos (4 no total) era o que estava na mesa tinha o que comer. Ponto final.
Pois bem, eu sempre via todos se levantarem, minhas irmãs começarem a limpar a cozinha, e eu lá, sentadinha em frente ao prato de comida.
Depois de um bom tempo, ou minha mãe me liberava mas com um bronca daquelas ou alguma das minhas irmã ficavam com dó de mim e jogavam a minha comida fora. Logo, eu sai saltitante e feliz para brincar de novo.
Juro, não sei como eu aguentava isso. Almoço e janta. Sempre a mesma cena.
Me lembro de um dia que a vizinha tinha um compromisso e deixou sua filha Sônia na nossa casa, ela ficou pasma com o tempo que eu levei para almoçar. Lembro que assim que sua mãe chegou ela foi correndo contar o quanto eu demorava para comer.
Bem, um belo dia, acho que eu tinha 5 ou 6 anos, resolvi "imitar" minha mãe e assim me livrar daquele tormento.
Era assim: eu esperava minha mãe servir a todos e quando ela começa a comer eu também começava. Ela cortava um pedaço de carne e comia. Eu idem. Ela comia uma folha de alface. Eu também. E assim quando ela terminava o prato dela, tchanam: eu também terminava o meu.
Me lembro da surpresa de todos no primeiro dia, meus pais elogiaram, minhas irmãs também ficaram aliviadas pois parecia que aquela novela teria fim.
E assim foi. Daquele dia em diante começei a acompanhar o ritmo de todos na mesa, nos primeiros dias imitava minha mãe, depois já não precisava mais. Já tinha o meu ritmo e finalmente aquela tortura (que era para mim) chegara ao fim.
Eu estava pensando nisso por esses dias. O exemplo. E pensei em como muitas vezes estamos sendo exemplos para alguém e nem imaginamos.
Minha mãe por sinal até hoje não sabe disso (nossa!acabei de me tocar, preciso contar para ela!). Ela não sabe que eu a imitei por vários dias para aprender a me alimentar direito antes que a comida gelasse e fosse para o lixo. Ela não sabe que imitei um ato dela para acabar com aquele martírio que era para mim quando chegava a hora das refeições.
Refletindo sobre o assunto, o exemplo, e me lembrando dessa história senti um gelo por dentro ao imaginar em qual momento eu posso ter servido de exemplo (bom ou ruim) para alguém e não percebi.
Lembro que uma vez na faculdade, durante uma aula de psicologia a professora comentou sobre isso, ela disse que as crianças costumam escolher seus modelos, imitar os adultos e nem sempre o escolhido é o pai ou mãe. Alguns escolhem o tio, a madrinha ou qualquer pessoa próxima para seguir de modelo. Imitar seus atos e atitudes.
Eu por exemplo até hoje, quando conheço ou vejo alguém tendo uma atitude que me agrada penso: poxa que legal que ela(e) fez ou falou, preciso fazer assim também.
O meu medo é justamente ao contrário, em pensar que alguém pode estar me observando e de algum forma se inspirando em algo.
Geralmente gelo quando escuto um "Eu fiz igual a Aldinha" ou "Eu me lembrei do que a Alda falou sobre isso e..."
Eu logo interrompo com um "Ai, o que foi que eu falei sobre isso?"
Derepente eu posso falar "Ah, tô de saco cheio desse emprego. Não vou mais tolerar esse tipo de coisa. Quer saber? Vou pedir minha demissão e fazer artesanato." (ai que delícia né? rs,rs,rs)
Mas sem intenção, posso ter omitido que eu já estava planejando isso, posso ter feitos cursos, posso ter jeito para coisa, posso ter uma garagem ótima para montar minha loja etc. Só estava realmente esperando chegar a hora para cair fora. Viver de artesanatos poderia estar nos meus planos há um tempo. Não foi uma decisão tomada assim, de uma hora para outra.
Imagina no outro dia, depois de uma discussão com o chefe sua colega de trabalho declara:
"Vou fazer igual a fulana, tô me demitindo, vou fazer artesanato!"
Sei que foi um exemplo tosco, mas é nesse sentido que devemos nos alertar. A gente muitas vezes não presta atenção em que está nos escutando e, como essas pessoas estão interpretando nossas atitudes.
É vero, nos damos bons exemplos sim, mas realmente temos que ser cuidadosos com nossas palavras e atos, sempre.
É difícil, eu concordo. Esse alerta constante acaba por nos deixar exauridos.
Mas eu dou umas dicas:
  • quanto menos falarmos, teremos menos chances de prejudicar (sem saber) uma pessoa.
  • quanto mais pensarmos antes de falar, menos besteiras falamos.
  • quanto mais ouvimos, mais aprendemos. Será que é realmente necessário darmos nossa opinião sobre todos os assuntos? Em toda conversa?
  • e finalmente, quanto mais nos colocamos no lugar dos outros e analisamos (com sinceridade!) qual seria nossa atitude naquele momento, mais nos conhecemos e mais reconhecemos que nossa opinião ou comentário não se faz necessário naquela hora.
Mas tenho um exemplo legal para contar também: uma pessoa me confidenciou estar lutando bravamente para se libertar de um vício, que estava prejudicando não só a ela mas aos familiares e amigos. E agora, com um certo tempo de superação, notou que um amigo que tem o mesmo problema está indo pelo o mesmo caminho, imitando suas atitudes, prestando atenção quando essa pessoa relata sobre a sua recuperação. Isso não é muito legal?

A palavra vale prata, o silêncio vale ouro.

Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores do que o teu silêncio. (Provérbio indiano)

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