07 junho, 2010

Dar o peixe ou ensinar a pescar?

Foi assim: a empregada da Anísia comentou com ela que, sempre que passava perto de um barraco próximo a casa onde mora, ouvia choro de crianças e perguntou a Anísia: será que você não pode ajudar com alguma coisa?
A Anísia conversou com o Adilson, que é o nosso expositor nas aulas de terças e ele se propôs a ir até lá e levar alguns mantimentos para aquela família.
Porém, chegando lá a surpresa: o lugar que essa família mora (junto com outras) é muito afastado e isolado dos demais. E vivem de uma forma extremamente precária.
Explicando: o Adilson foi encontrar a moça que havia trazido a notícia em uma favela, porém ali muitas das casas eram de alvenaria, mesmo que inacabas, só no tijolo, tinham uma certa estrutura. Essas famílias moram bem além desse lugar onde de carro não foi possível chegar.
Em baixo de pés de eucaliptos, do lado de um córrego fétido, onde há muita umidade, há cerca de 10-15 barracos de madeiras, onde essas famílias vivem.
Quando o Adilson foi até o barraco mencionado outra surpresa: dentro de um único cômodo, de chão de barro vivem duas mulheres e 11 crianças. Os menores um casal de gêmeos de 4 meses, sendo alimentados com água com açúcar.
O Adilson nos disse que ficou transtornado diante da situação, e que em momento algum ele imaginou que viria assim, pessoalmente, pessoas vivendo dessa forma.
Bom, não vou detalhar mais do que ele viu pois a intenção não é enfatizar isso.
Ele então pediu nossa contribuição do que fosse possível doar para aquelas famílias.
Eu comuniquei alguns amigos, que comunicaram outros e no final conseguimos arrecadar uma boa quantia de roupas, pacotes de leite, brinquedos, cobertores etc.
Tivemos que montar um esquema doido para conseguirmos levar tudo. Pois foi do trabalho para casa, depois de casa para o Consolador.
No último dia, mais cheias de sacolas ainda, conseguimos carona até metade do caminho e no final tudo deu certo. A pick up do Adilson ficou lotada de doações que ele foi levar na última quinta-feira (feriado) para essas pessoas.
Eu fiquei extremamente grata a todos que ajudaram. Agradeci muito cada contribuição e me esforcei para conseguir levar todas, não deixar nenhuma para trás.
Por outro lado não pude de deixar de notar que poucos ao saberem da situação dessa família não fizeram o seguinte comentário: “Nossa! Mas e essa mulher, não toma anticoncepcional não? Isso que me dá raiva. Na hora de fazer...”
Vejo o quanto ainda difícil ajudar sem algum desprendimento. Ajudar sem impor alguma coisa ao outro, geralmente algo da nossa conduta, do nosso modo de ser.
Eu ajudo desde que fulano...
Estamos falando de necessidades extremamente básicas de sobrevivência: alimentos e roupas. Será que ao ajudarmos pessoas nessas condições devemos cobrar algo delas?
Sim, também não acho que essas pessoas devem (sobre)viver de doações.
Mas, nós, com nosso grau de entendimento, de estudo, de família, pensamos arrogantemente que todos têm o mesmo.
Se eu sei o que é um preservativo todos sabem. Eu já me confundi e já vi muitas amigas minhas se embananarem com a cartela de anticoncepcional.
Eu já tive muitas dúvidas que foram esclarecidas no consultório médico ou em um artigo de um livro ou de uma revista.
Eu já ouvi falar de uma ação feita em uma favela aqui em São Paulo, onde foram levados várias cartelas de anticoncepcionais e explicado em detalhes para as mulheres para o que servia, que tomar aquele comprimido iria fazer bem para elas. Pois bem,
Essa foi a mensagem que algumas gravaram: vai fazer bem para mim. E sabe o que elas optaram em fazer? Em transferi “o bem” para os filhos. Ao invés delas tomarem o tal remédio que é tão bom, resolveram dar para os filhos. Ingenuamente maternal.
Será que o companheiro dessa mulher respeita a vontade dela? Será que ele docemente questiona: Hoje você está a fim amor?
Será que elas têm um telefone público para fazer um denúncia? Será que a polícia vai até esse lugar intimar o tal do marido?
E se for, será que essa mulher se sente protegida na noite seguinte? Será que se ela ligar de novo a polícia vai voltar?
São tantos “serás” que tornariam esse post muito mais longo do que ele já está.
Mais as pessoas amparadas pelo seu conforto, amparo familiar, dignidade e outras tantas coisas infelizmente não SE questionam antes de questionarem os demais.
E acham que todos devem (?) se igualarem aos seus pensamentos e ideias mesmo estando muito, mais muito longe da estrutura e da realidade que têm.
Isso pode parecer uma crítica mas é só um desabafo. De uma pessoa que também ainda tem muito o que aprender, mudar e ajudar os demais.

Muita gente esclarecida e acadêmicos criticavam Chico Xavier pelas campanhas de doações, que rotulavam de “assistencialismo”.
Eles diziam que não se deve dar o peixe, mas ensinar a pescar.
Madre Tereza de Calcutá respondia que alguns não tinham nem forças para segurar a vara de pesca.
Chico recorria a uma pergunta chave para defender as doações e outros paliativos:
- Se uma casa está pegando fogo do nosso lado, cruzamos os braços e esperamos os bombeiros ou ajudamos com alguns baldes de água?

Um comentário:

  1. Para quem condena a ajuda do bolsa familia aos mais carentes : http://praladequalquerlugar.blogspot.com.br/2010/06/dar-o-peixe-ou-ensinar-pescar.html

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Oi?