20 abril, 2015

Presentes

- Nossa, que lindo! Dá pra mim?
- Não posso, eu ganhei de presente.
Ouço isso desde de criança e carreguei como uma verdade por bons tempos.
Lógico, muitas vezes tal resposta era dada como uma bela desculpa para quem não queria dar tal objeto a pessoa que pediu, mas também era como uma regra, se eu ganhei não posso me desfazer.
Hoje penso...será que isso é mesmo válido. Claro que existe o valor sentimental de tais presentes, mas se não o uso, ou não gosto da cor, do modelo, acho bonito mas não para mim, acho o cheiro forte, não é meu estilo...será que realmente tenho que guardá-lo para sempre porque foi presente?
Se a gente se lembrar que sempre tem alguém que está precisando justamente do tal objeto, com aquele número, aquela cor, ou estilo, por que não passá-lo a diante?
Outra coisa que me caiu a ficha foi o de dar um presente e depois ficar "monitorando" a pessoa agraciada com várias indagações: já usou? você gostou mesmo? por que não vai com tal coisa que te dei na festa? nossa, nem vi você usando...e por aí vai.
Convenhamos, coisa feia né?
Se a gente presentou agora aquilo é da pessoa e ela pode fazer exatamente o que quiser com ele!
Claro que é muito bom quando a gente da um presente e a pessoa fala: nossa, como gostei daquilo que você me deu, uso tanto!
Porque realmente é esse o objetivo quando a gente presenteia não é? Que a pessoa goste! Mas podemos muitas vezes não sermos tão certeiros assim e darmos uma bola fora. Fazer o quê, paciência!
Em dois livros achei isso de uma forma bem esclarecedora, o primeiro foi no Sinal Verde, do André Luiz psicografado pelo Chico Xavier. 

O presente é sempre um sinal de afeto e distinção entre a pessoa que oferece e a que recebe. Sempre aconselhável escolher o presente de acordo com a profissão ou a condição de quem vai recebê-lo. Se a sua oferta vem a ser alguma prenda de confecção pessoal, como sejam um quadro ou alguma obra de natureza artística, evite perguntar por ela depois de sua doação ou conduzir pessoas para conhecê-la, criando embaraços em suas relações afetivas. Omita o valor ou a importância de sua dádiva, deixando semelhante avaliação ao critério dos outros. Depois de presentear alguém com o seu testemunho de amizade, é sempre justo silenciar referências sobre o assunto para não constranger essa mesma pessoa a quem supõe obsequiar. Se você deu um presente e a criatura beneficiada passou a sua dádiva para além do círculo pessoal, felicitando outra criatura, não lance reclamações e sim considere as bênçãos da alegria multiplicadas por sua sementeira de fraternidade e de amor. 

E depois foi no "Para uma pessoa bonita" da Shundo A.Roshi que foi mestra da monja Coen. Vou dar uma resumida aqui do trecho:
Certa vez, durante uma viagem ela escolheu com todo cuidado um presente para a Mestra esperando que ela se alegrasse. Eram folhas de papel colorido. Ao entregar a Mestra disse: Na verdade isso não serve para mim, mas aceito porque poderá  servir para outra pessoa.
Ela retrucou sem pensar: Já que vai dar para outra pessoa eu nem deveria lhe presentear!
Naquele instante ela percebe que era incapaz de dar sem reservas. Mostrava ali seu lado desagradável, apegada a coisas que nem eram mais dela! 
Só o fato da Mestra ter aceitado já deveria alegrá-la e ela deveria dizer: é todo seu, faça como achar melhor, dê para alguém, passe adiante.
Nesse momento ela juntou as palmas das mãos e agradeceu a lição aprendida.

Aliás, esses dois livros são muito bons, indico a leitura.
Mas também tem o outro lado, os objetos ganhados que a gente vai acumulando durante a vida mas o apego é material ou emocional e a gente não larga mão,mesmo que esteja lá no armário há anos a fio.
Eu tenho alguns desses e confesso que isso é bem mais difícil. Mas que bem cabe a nossa reflexão sobre eles.
Enquanto isso não rola vamos abrindo mão daqueles que mantemos apenas pela suposta regra "o que se ganha não se dá" e deixarmos que sirvam outras pessoas que tem a real necessidade deles.

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