29 janeiro, 2016

Trecho do livro: Grande Magia

Uma existência mais ampla

...Um dos exemplos mais legais de vida criativa que vi nos últimos anos veio da minha amiga Susan, que começou a fazer patinação artística aos quarenta anos. Para ser mais precisa ela já sabia patinar. Tinha participado de competições quando criança e sempre amara fazê-lo, mas o abandonou o esporte durante a adolescência, quando ficou claro que não tinha "talento" suficiente para se tornar campeã. 
...Durante os 25 anos seguintes, minha amiga Susan não patinou. Para que se dar o trabalho se você não pode ser a melhor? Então ela completou quarenta anos. Estava cansada, inquieta. Sentia-se apagada e pesada. Fez um exame de consciência, como costumamos fazer nessas datas. Perguntou-se quando tinha sido a última vez que se sentira leve, alegre e - sim - criativa na própria pele. Para seu espanto, percebeu que havia décadas que não se sentia assim. Na verdade, a última vez que experimentara esses sentimentos tinha sido na adolescência, na época que fazia patinação artística. Ficou chocada ao descobrir que havia se negado essa prática artística. Ficou chocada ao descobrir que havia se negado essa prática tão estimulante por tanto tempo e curiosa para ver se ainda era algo que amava.
Comprou um par de patins, encontrou um rinque e contratou um treinador. Ignorou a voz interior que lhe dizia que estava sendo autocomplacente e ridícula por fazer essa loucura. Bloqueou os sentimentos de extremo desconforto por ser a única mulher de meia-idade no rinque em meio a todas aquelas minúsculas e levíssimas meninas de nove anos.
Simplesmente foi lá e fez.
Três vezes por semana, Susan acordava antes do amanhecer e, ainda sonolenta, antes de ir trabalhar, patinava. E patinava, patinava, e patinava. E sim, continuava amando patinar, tanto quanto sempre amava. Talvez até mais do nunca, pois agora, já adulta, tinha finalmente maturidade suficiente para apreciar o valor da própria alegria. Patinar fazia com que se sentisse viva, imune ao passar do tempo. Deixou de sentir que era nada além de uma consumidora, nada além da soma de suas obrigações e de seus deveres diários. Estava fazendo algo por si, algo para si.
...
Observe que minha amiga não largou o emprego, não vendeu a casa, não se afastou de todo mundo nem se mudou para Toronto a fim de treinar setenta horas por semana com um rigoroso treinador olímpico. E não, essa história não termina com ela ganhando  uma medalha. Não precisa. Na verdade essa história não termina, pois Susan ainda pratica a patinação diversas vezes por semana - simplesmente porque patinar ainda é para ela a melhor maneira de revelar certa beleza e transcendência em sua vida, que não parecem estar acessíveis de outra maneira. E Susan quer passar o tempo que for possível nesse estado de transcendência enquanto está aqui na Terra.
E isso é tudo.
É isso que chamo de viver criativamente.
...  
Grande Magia - Elizabeth Gilbert

4 comentários:

  1. Quero ler também! Me trará mais esperança pra voltar pra dança, quando eu puder!

    ResponderExcluir
  2. Outro livro bom Edna, mas ele não fala de dança não tá? Eu quis destacar esse trecho pois achei muito inspirador.
    Esse livro dá uns toques legais para levarmos uma vida mais criativa e feliz.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  3. OLHA EU AQUIIII!!! Consegui entrar!! O sistema aqui da empresa estava bloqueando seu blog, para o meu desepero... E direto eu tentava entrar e ainda não conseguia. :( Mas hoje eu consegui!!

    E que texto bacana, Alda! Mexeu aqui com a quaaase quarentona! :)

    ResponderExcluir
  4. As suas visitas são sempre surpresas agradáveis minha Flor.
    Tudo bem com você?

    ResponderExcluir

Oi?