Show do Gil

A alguns anos a rede de supermercados "Pão de Açúcar" patrocinou vários shows de músicas no Parque do Ibirapuera. Sempre aos domingos de manhã.
Eu e a Mari sempre íamos. Dependendo do artista o pessoal se animava de ir com a gente. Mas a maioria íamos só a duas.
Na véspera, sábado a noite, sempre nos programávamos de voltar para casa mais cedo para ir ao show na manhã seguinte.
Então, antes da meia-noite, corríamos as duas para o ponto para pegar o último ônibus.
E no dia seguinte tínhamos o esquema de nos encontrar no vagão do trem.
No dia do show do Gilberto Gil coincidiu com o dia que ela iria batizar sua afilhada. Fiquei triste dela não poder ir mas não desanimei. Fui sozinha. 
Quase no meio do show o tempo fechou. Nuvens enormes e escuras pairavam nas nossas cabeças. Estava lotado. E claro, caiu o maior toró. Chuvão mesmo. Praticamente junto com a chuva o Gil começou a tocar a música "Palco". A energia era contagiante. Quase ninguém arredou o pé. Todo mundo começou a cantar e a pular. Não dava nem mais para enxergar direito o palco de tanta água que caia.
Foi uma chuva forte e rápida. Na música seguinte praticamente já tinha passado.
Todo mundo sorria e sacudia a água da roupa e dos cabelos. Todo mundo pingando. 
Mesmo sem se conhecer olhávamos um para o outro e sorríamos. Era um sorriso meio cúmplice, de algo muito bom compartilhado.
O sol saiu. Final do show caminhando para o portão de saída já estava praticamente seca. Nem dava para acreditar que tínhamos tomado aquela chuva toda.
Cheguei em casa tomei um banho e até pensei em tirar um cochilo. Nessa hora uma outra amiga chegou em casa, a Naninha. Contei para ela sobre o show e num determinado momento ela disse: nossa, você está bonita! Sei lá, tá diferente. Acho que o show e a chuva te fizeram bem.
E realmente eu acho que estava de corpo e alma lavada naquele dia. O corpo pela chuva e a alma por ter cantado todas aquelas músicas lindas do Gil.