12 dezembro, 2005

Reflexões entre as estações Mauá e Santo André

Ontem, na estação de trem de Mauá, após usar o orelhão sentei no banco ao lado para esperar o trem. Nisso chega uma moça de uns 25 anos + ou -, com um garotinho de 5 anos, por aí. Ela parou em frente ao orelhão, procurava algo na bolsa enquanto pedia pro menino sentar no banco.

Eu não vi o que ele fez mas percebi que ela lhe deu um safanão e se alterou falando que ele não parava quieto, não dava sossego, que ela não aguentava mais. Realmente, o discurso dela teve um tom de exaustão, paciência zero. O menino parou, choramingando.

Ela no telefone avisa à uma amiga provavelmente, que as chaves dela (da amiga) tinham ficado em sua bolsa, e informou - Já estou na estação de trem e vou levar o V. (o menino) para casa do meu pai. Ou seja, o pai dela, avô do menino. Provavelmente ela era mãe solteira, e foi mãe muito jovem.

O trem chegou eles se sentaram em um banco de frente para mim. O menino logo se sentou e ficou calmo, quieto. Tentou puxar papo com ela "- Ainda bem que o trem não está cheio né?". Ela não respondeu. Abriu novamente sua bolsa e começou a vasculhar. O menino sempre olhando para ela. Se ajoelhou no banco e foi dar um beijo no rosto dela. Ela, não de todo agrado ofereceu a face. O menino sentou novamente. Ela fechou a bolsa e os olhos. Dava para perceber que ela não estava cochilando. O menino com o olhar preocupado perguntou algo como: "- Tá tudo bem? ou Tá com sono?". Ela fingiu que não tinha escutado e continou com os olhos fechados.

Fiquei triste em ver essa cena. Fiquei com pena, dos dois. Não posso falar com precisão, mas ela demonstrava que não tinha nenhum preparo para ter aquele filho. E estava em um patamar que já o ignorava. Demonstrava cansaço, irritação, saco cheio.

Fiquei pensando qual seria sua história. Imaginei que ela tinha se iludido com uma grande paixão. Aquelas que a gente têm quando jovem que achamos que aquele é o homem de nossa vida, e nunca, nunca mais vamos gostar de outro. Provavelmente a gravidez indesejada acabou se tornando em uma possibilidade de segurar esse amor. E agora deveria ser mãe e filho carentes da atenção do pai da criança.

Quem seria mais vítima ali, ela ou a criança? É lógico que ela bobiou em engravidar mas vai saber o que ela fantasiou com essa gravidez. E quais seriam suas opções abortar ou ter o filho. Não deveria estar preparada para nenhuma das duas. Nem condições (inclusive psicológicas) de assumir uma das.

Se tivesse abortado seria criticada ferozmente. Teve o filho mas não tem capacidade e estrutura para criá-lo deve ser criticada também. Até por ela mesma. E às vezes pode até descontar a amargura que tem de tudo isso no filho, que é apenas o fruto de tudo.

Fiquei com pena, não sei se mais dela ou da criança.

E o menino...tão vítima quanto ela, continuava a tentar conversar com a mãe. E ela continuava com os olhos fechados, ignorando. Visivelmente saturada.

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