26 julho, 2006

E você acredita em quê?

Ontem conversei por telefone com uma amiga da adolescência que há muito tempo não vejo. Conversa gostosa sempre em torno de “lembra aquele dia”, “lembra daquela prova”, “lembra das tardes jogando vôlei na rua” e por aí foi.

O papo foi indo e começamos falar sobre casamento, ambas estão casadas mas eu não me casei nem na igreja e nem no civil. Lembro que na última vez que nos falamos eu brinquei dizendo que não tinha me casado oficialmente por que se houvesse uma separação seria mais fácil era só cada um catar suas coisas e pronto. Falei isso na brincadeira mas na real tem seu fundo de verdade. Então ontem ela falou: é você se casou já pensando em se separar né? E depois ainda disse: A gente precisa fazer as coisas como Deus quer, precisamos agradar à Deus.

Não, eu não me casei pensando na separação e acredito que pouquíssimas pessoas fizeram ou pensam em fazer isso. Acho que todos independente de se casar ou não oficialmente se casam sonhando em viver juntos pra sempre, principalmente no momento da decisão, pois só se assume um compromisso desse quando a situação está propícia pra isso. Penso que é meio improvável que alguém que esteja em crise num relacionamento pense em casamento!
Mas sei também que a gente se engana e as coisas mudam. E lá na frente podemos (e devemos sim!) nos separarmos se as coisas chegaram ao limite.

E quanto agradar a Deus...isso é bem mais complexo...não sei bem se a palavra certa é agradar a Deus...acho que Deus quer sim que tomemos o melhor caminho, as melhores decisões para sermos felizes, para não sofremos, e desse modo agradamos à Ele. Quando nos gostamos, nos cuidamos, nos respeitamos e respeitamos o próximo, estamos agradando a Deus. Se, se casar na igreja trará satisfação pra você e ao seu parceiro irá satisfazer a Deus também. Se não que sentido faz me vestir de noiva e entrar na igreja? Acho que fundamental a um casamento e o amor e o respeito. Se só existisse falta de respeito, traição entre casais que não se casaram oficialmente eu até concordaria mas sabemos que isso não é verdade, nem aqui nem na China!

Aliás, crença religiosa ultimamente é algo que tenho pensado muito...Fui criada em meio as tradições católicas mas meus pais nunca foram de freqüentar e muito menos obrigavam os filhos a assistirem a missa.
Lembro que tinha uma amiga crente e de vez enquando eu ia com ela na igreja, meus pais levavam isso numa boa, até perguntavam para mim: você vai virar “irmã” também? Eu sorria e respondia que não, que só tinha ido a igreja com ela.

Agora minha mãe e uma das minhas irmãs são espíritas, meu irmão e a minha irmã mais velha são católicos, meu pai vai de vez enquando vai a missa e eu estou a procura do meu caminho. Sinto falta sim de uma crença mais presente e forte na minha vida, sinto falta de expandir meu lado espiritual, mas enquanto não encontro vou seguindo fazendo o mínimo que se pode fazer, respeitando as demais crenças.

Como pode existir um só caminho se existem mil modos de pensar, milhares de pessoas diferentes, de culturas distintas? Eu por exemplo não me sinto bem ouvindo os pastores das igrejas evangélicas gritando, falando em demônio etc., isso não me faz bem, não me agrega nada, mas para milhares de outras pessoas isso diz muito, e desse modo que lhes agradam ouvir a palavra de Deus, é desse modo que faz sentido!
Do mesmo modo quando vou à missa fica difícil me concentrar e quando me concentro questiono se aquilo pra mim é verdade e geralmente não é!

Então o que devo fazer? Me forçar a essas situações? Não, não vou fazer isso. Sei que desse jeito nem eu nem Deus ficaríamos satisfeitos. Sei que se tiver que acontecer algo que me levará para alguma igreja vai acontecer, e vou admitir sem nenhuma vergonha que errei por não ter enxergado antes, por não ter percebido. Minha amiga disse que o coração às vezes nos engana, não sei se ele nos engana ou nós que não queremos ver o que ele quer nos mostrar. Só sei que o melhor é admitir o que aconteceu e bola pra frente. Nunca é tarde pra ser feliz.

Só espero que nunca sai de dentro de mim o respeito pelo próximo, pela sua opinião e pela sua crença. Sei que o que é bom pra mim pode não ser bom pra outra pessoa. Sei também que quando algo está nos fazendo bem queremos que todos venham compartilhar conosco mas isso não significa que eu tenha que impor ou expor isso como a única verdade, mas sim como um caminho.

Ontem fiquei um pouco chateada aliás sempre fico chateada quando isso acontece. Gosto muito de conversar sobre religião mas infelizmente é muito difícil encontrar uma pessoa que não fique defendendo e impondo sua crença e pior desrespeitando e debochando da opinião alheia. Outro dia ouvi uma pessoa fazendo um comentário tão triste! Ela falou mais ou menos assim: Fulano estava em tal religião mas Jesus falou “Venhaaa” e ele veio para tal religião (que era a dela). Sem comentários.

Durante a conversa falei pra minha amiga que deveríamos nos respeitar e seguir nosso coração, no final cada um vai ter que assumir seus erros, ela respondeu: ainda bem né? Como quem diz eu não vou pagar por aqueles que não querem acreditar em tais coisas, eu também não quero pagar pela falta de respeito e consideração, prepotência e arrogância dos outros.

Eu quero sim espalhar o bem, a gentileza, o respeito e o perdão. E isso podemos fazer independente de nossas crenças.

Independente de tudo isso continuo adorando minha amiga e com saudades. Agora já sei que devo evitar esse assunto entre nós (o que não era preciso quando éramos adolescentes, mas como disse antes as coisas mudam!), e torço para que nossas conversas continuem rolando soltas, como sempre rolaram.


O cultivo do amor e da compaixão é a verdadeira essência de todas as crenças. O importante é que sua vida diária você pratique as coisas essenciais e, nesse nível, quase não existe diferença entre budismo, cristianismo, judaísmo, islamismo ou qualquer outra fé. Todas elas focalizam o desenvolvimento, o aperfeiçoamento dos seres humanos, o sentimento da fraternidade e de solidariedade. Nesse sentido, as diferenças entre as religiões não são de maneira alguma essenciais.
Dalai Lama

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